terça-feira, abril 21, 2009

É estranho mas é o que sinto


Eu tenho uma amiga que se chama Jussara. Ela tem câncer. Ela tem vida. Ela tem uma energia enorme, acabou de fazer sua terceira cirurgia e hoje fui vê-la no hospital. Quando cheguei dei um beijo gostoso nela e sentei do seu lado. Senti o morno de suas bochechas e seus cabelos eram como um escorregador por onde meus dedos deslizavam. Lisos, sem nós, limpos. Exatamente como a percebo. Estar ali foi um dos melhores momentos da minha vida nos últimos dias. Deu-me calor, me encheu de amor, me deu prazer.

Parece estranho dizer isso quando falo de uma amiga que está tratando de uma doença silenciosa e rápida? De uma doença que não quer dar trégua pra ela? Parece e é. Mas o mais louco é sentir, no meio disto tudo, que ela nunca esteve tão viva, tão presente, tão lúcida. E que sua lucidez e presença potencializam em mim a vontade – e necessidade – de ser criativa, de escrever, de me expressar sem medo. Mas e será que ela tem medo? Acho que tem. Mas não a paralisa. O medo a move. O amor a move. Seus filhos a movem.

Hoje, no quarto 469, do hospital Moinhos de Vento estranhamente me senti num encontro de amigas, previamente marcado, onde conversas rolaram, olhares se marcaram e a vida pareceu mais colorida. Como em teu sonho, Ju. Eu vi tuas flores amarelas, a entrada do viaduto, a ausência da tua calcinha e o quarto vermelho.

Pra mim o amarelo é uma fenda, uma abertura, pra algo novo. Quem sabe um sol. A entrada do viaduto pode ser um caminho com voltas, às vezes meio fechado, mas que invariavelmente quase toca o céu. Por onde se desce com os vidros do carro abertos, pra que o cabelo voe e a brisa provoque um arrepio. A falta de uma calcinha? Penso que é a liberdade que a gente tanto quer, de não se preocupar com nada e andar por aí aproveitando a vida. E o quarto vermelho é explosão, loucura, delírio, morfina. Pode ser uma dor velha que volta e te expõe à ferida, pode ser o sangue todo que tu recebeste dos teus amigos... Pode ser o amor das tuas irmãs, da tua mãe, do teu irmão, da cunhada, da sobrinha, do sobrinho, do Alemão, da Giulia, do Gabi, do Tiago, do Mateus e aaahhhhh!!!!!!!!!!!!! De todo mundo que te ama. E é gente pra caralho!

Eu tenho uma amiga que se chama Jussara. Ela tem câncer. É veterinária. É mãe, mulher, bonita. Ela tem um pedacinho de fígado. Ela é guerreira, mas prefere assumir que é frágil e que precisa de carinho. Ela tem mais vida em suas veias do que qualquer um de nós.

segunda-feira, abril 20, 2009

Ela tem medo de cortar o cabelo (para Nádia)

Se alguém da mole, ela vai
Se não da ela vai também
Não tem freio pra sacanagem
Não tem medo, não tem idade

É intensa e mete medo
Mete o dedo e quer mais
Não adianta dar uma, tem que ser seis

No ocidente, no oriente, vai em frente
Olha, come, devora, se delicia
Não fala com coração pra não atrapalhar
Não tem medo da carne, nem do escuro

Mas quando fala em amor, ergue um muro!
Ela tem medo de cortar o cabelo.

domingo, abril 05, 2009

Caminho

Caminho quero, caminho faço
Se não me enxergo eu me desfaço
Não tenho medo da condição, da forma
E da aparição

Junto fome com o começo
Jogo pro alto o que esqueço
Não sei se creio ou se receio
Mas sei o que sinto como recheio

Caminho quero, caminho faço
Eu me despeço e me descasco
Junto fome com meus tropeços
Eu esqueço

quinta-feira, abril 02, 2009

Do que eu preciso


Eu preciso de tempo
Pra me acostumar
Pra me olhar
Pra tomar um café
Pra olhar pro pé
Pra deitar na rede
Pra matar minha sede
Pra ignorar
Pra idolatrar
Pra cantar, dançar e me embaralhar
Pra só olhar

quarta-feira, abril 01, 2009

Sair correndo

Dia desses decidi que ia correr. Comecei um treino lento, sem muito esforço, pra fazer da corrida um hábito saudável. Saúde pro corpo, pra cabeça e pro espírito.
Quem nunca teve vontade de sair correndo? Correr de um trabalho, do chefe, do casamento, do pai, da mãe, dos filhos, sair correndo de um amigo e, principalmente, da gente mesmo?
Agora to com muita vontade de correr do trabalho chato, da obrigação, do dever. E penso se há alguém realmente que ama aquilo que faz. Que se realiza com seu trabalho. Acho isso um clichê – Se realizar no trabalho. Ou melhor, tenho inveja de quem tem essa possibilidade. Será que quem vive assim, corre de alguma coisa?
Eu, sinceramente, ainda sonho com um trabalho em que me realize, me encha de tesão. E, ao mesmo tempo, saio correndo de quem vem com esse papo pra perto de mim. Aliás, saio correndo agora e não vai ser devagar! Vai ser com muito esforço. Nada de treinamento para iniciantes. Mas se eu correr e não chegar a lugar nenhum? Pode acontecer. Além disso, posso correr com minhas pernas, mas a cabeça vem junto. Não dá pra correr dela (ou sem ela)! Mas também se não posso correr sem ela posso fazer o seguinte: correr pra dentro de mim, rápido, intensamente até cansar e chegar à exaustão. Aí cruzo alguma linha de chegada imaginária, traçada por um pensamento qualquer e me entrego ao chão, leve, sorridente e presente. Quem sabe assim essa vontade de sair correndo acabe. Então decido: hoje meu treino vai ser duro e não vou me dar mole.

Quem sou eu

Minha foto
Imbituba, SC, Brazil
Gosto da escrita e quebrei o cadeado da porta por onde passam minhas emoções e vontades. Procuro o novo nas coisas que se repetem no dia-a-dia e escrevendo percebo e vivo intensamente as descobertas. E tudo que escrevo me alivia, me faz rir, me arrepia.

Minha lista de blogs

Seguidores