quarta-feira, abril 21, 2010

Fabrício

Tem uma sensação que volta e meia emerge em mim. De criança perdida, sem cuidado, sem mãe por perto. Sem colo. Tema óbvio e batido pra terapia, coisa que já fiz e foi bom. Mas esse negócio ficou gravado em algum lugar e nem sei se aconteceu comigo. O fato é que quando aparece algumas vezes me identifico e fico pequenininha, outras vezes não me pega e acaba passando.


Pois foi na Redenção, no domingo passado, que surgiu ali, bem na minha frente, um menino. Ele vinha correndo, chorando, gritando. Tanta gente ali, mas todos abriam caminho pra ele passar. Até chegar a mim. Ou eu chegar nele. Não sei. Só sei que a sensação tão conhecida explodiu na minha cara, como um vulcão e eu, sem pensar, me joguei na frente dele e ele nos meus braços. O guri era virado em desespero, suor e tambor no peito batendo em ritmo desordenado, caótico. Eu era virada em mãe, em proteção, em cuidado, carinho, amor. Amor por uma criança que nunca tinha visto. Amor sem nada em troca. Só tinha olhos pra ele e tentava me conectar com seus olhos, mas eles estavam perdidos procurando incessantemente a mãe, o pai, alguém. Passaram-se 10 minutos e nós dois grudados. Um não soltava o outro. Até que a avó apareceu desesperada e aliviada por encontrar o neto. Entreguei-o a ela, respirando fundo. Ele foi para seu colo e parou de chorar na mesma hora. Alívio.

Continuei meu passeio tranqüila por devolver aquele serzinho chamado Fabrício, de três anos, pra companhia de quem ele confia e ama. E olhando em volta percebi aquele parque imenso, cheio de gente por todos os lados e senti no meu peito o medo que ele sentiu. Medo de criança perdida, sem cuidado, sem mãe por perto, sem colo. Chorei e senti mais alívio, um espaço novo dentro de mim. Ele encontrou o meu colo e eu encontrei a chave pra cuidar da criança em mim, que andava por tanto tempo com medo. Talvez a sensação volte. Talvez não. Mas o Fabrício voltou pra casa no colo da avó. Com cuidado, amor e proteção. E eu fiquei feliz por poder dar algo tão genuíno sem esperar nada de volta. Mas voltou. Pois mais amor me apareceu e me preencheu. Nenhum lugar melhor pra isto acontecer: Parque da Redenção, ou Salvação, ou Resgate ou Parque da Libertação.

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Gosto da escrita e quebrei o cadeado da porta por onde passam minhas emoções e vontades. Procuro o novo nas coisas que se repetem no dia-a-dia e escrevendo percebo e vivo intensamente as descobertas. E tudo que escrevo me alivia, me faz rir, me arrepia.

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