quarta-feira, junho 17, 2009

Pagar pra ver


Hoje é dia de pagar o condomínio, a luz, a faxineira, o colégio das crianças. Sempre, nesta data, tento lembrar quando comecei a pagar contas, mas nunca lembro. Hoje a lembrança se revelou: foi para me relacionar com os homens.

O primeiro, quando eu tinha 14 anos, era um bom pretendente, que me convidou para ir a uma festa, mas com uma condição: que eu pagasse o convite. Eu, como tinha diante dos meus olhos uma mina de ouro, o belas-pernas do colégio, não pensei duas vezes. Paguei pra namorar.

Aos 16 encontrei um metaleiro que me enlouqueceu. Me chamava de Madonna enquanto ele era o Ozzy. E pra que este encontro insólito acontecesse, eu matava as aulas de ginástica aeróbica e ia direto pra casa, quero dizer, pra cama dele. Aqui, era meu pai quem pagava a academia e, consequentemente, a transa!

Aos 21, reencontrei um amor de praia: o André. Fomos ao motel, nos beijamos, transamos e na hora de pagar a conta... ele meteu a mão no bolso e disse: - Não tenho grana. Paguei pra transar.

Em seguida veio o Sandro, olhos verdes, vendedor de material de construção, obviamente duro, que convidei pra sair. Paguei pra jantar e transar.

E, como se vive dando voltas no mundo, voltei pro belas-pernas – aquele que eu paguei pra namorar – e me casei. Casamento sem festa, sem ritual e, aparentemente, sem nada a pagar. Aparentemente. Porque quando nos juntamos, sem perceber, uma conta conjunta foi aberta. Conta comum na vida de casado: de prazeres, amores, medos, alegrias, desesperos, vida, raiva, emoções. Mas como éramos um casal e as dívidas foram contraídas em conjunto, desta vez, não paguei sozinha.

E agora eu estou aqui, sentada nesta mesa, fechando as contas mensais, olhando meu saldo bancário... e pensando em tudo o que gastei pra ter os caras no meu lado. Sinceramente, acho que minha grana foi bem investida, sabe. Aprendi a cuidar melhor do meu dinheiro, tenho casa própria, carro, bom emprego, viajo, curto a vida, conheço minhas preferências sexuais e fiquei mais bonita com o tempo. E ainda: casei de novo mesmo sabendo da inevitável conta conjunta. Mas com ele é diferente (não adianta, mulheres sempre têm esta ilusão) e eu vou pagar pra ver.

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Imbituba, SC, Brazil
Gosto da escrita e quebrei o cadeado da porta por onde passam minhas emoções e vontades. Procuro o novo nas coisas que se repetem no dia-a-dia e escrevendo percebo e vivo intensamente as descobertas. E tudo que escrevo me alivia, me faz rir, me arrepia.

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