quarta-feira, dezembro 08, 2010

Tudo o que uma cabeça pensa ao mesmo tempo

Hoje acordei e fui tomar banho. Me ensaboando pensei no negócio que fechei, na noite mal dormida que tive, nas roupas que não lavei, no carro que ainda não troquei, na festa que não sei se vou, em uma amiga separada viúva que vai receber pensão. No meu pai que quase não vejo, na meditação que não fiz, no meu joelho que faz barulho, na quantidade de baboseiras que vejo no Twitter, se há quantidade padrão de sexo que devo fazer.


Sai do banho e fui tomar café. No primeiro gole pensei nas contas pra pagar, na sorte que tenho na vida, na roupa de teatro da minha filha, no cliente mala que quer tudo e não dá nada em troca, na vida que levo, na vida que não levo. Pensei nas paredes que preciso pintar, no sofá que está velho e deixou de ser branco, nos excessos que cometi, nas faltas que tenho.

Vesti minha roupa e quando fui me maquiar continuei pensando. Pensei na oficina literária que não fiz este ano, na peça infantil que nunca acabo, na depilação que ainda não fiz, no parceiro amigo-amor-tesudo que tenho, nos poucos amigos que tenho, nos verdadeiros amigos que tenho. Pensei em alguns desafetos, no risoto de copa e alecrim que vou comer daqui a pouco, nos presentes de Natal ainda não comprados.

Entrei no carro, virei a chave e a porra da cabeça continuou funcionando. Pensei na sensação que vai e volta de estar faltando alguma coisa na vida, pensei na minha felicidade quando descobri minha gravidez, na minha tristeza quando descobri que minha filha tinha um problema neurológico, na alegria e contentamento em vê-la correndo, patinando, dançando.

Cheguei no meu destino e desliguei o carro. Pensei na resposta que devo dar a alguém, na abundância da minha vida, na colega de trabalho que estou com dificuldade de me relacionar, no que as pessoas pensam de mim, no que eu penso das pessoas. Pensei nos julgamentos que faço, pensei na minha chupeta e na minha mamadeira que usufrui até os seis anos. Pensei nos estímulos modernos que nos levam pra fora, pensei nos satsangs da Avinash que me levam pra dentro.

Sai do carro e fui recebida por um cliente. Pensei que ele era simpático e que me dava prazer estar ali. Pensei que gosto do meu trabalho, nas coisas chatas que fazem parte dele, no dinheiro que ganho na minha profissão, nas coisas que posso comprar, nos lugares que posso viajar. Pensei no quanto gosto de dançar na sala sentido o pé roçar no tapete, dormir no sofá, transar na luz do dia, na reserva financeira pra caso de emergência, no sapato que sempre preciso comprar.

Entrei na sala de reuniões e me ofereceram café. Tomei um gole e nada. Tomei outro gole e nada também. Nada de pensamento. Nada de trolóló. Cabeça vazia por um breve instante. Foi o presente do dia.

Um comentário:

  1. Amei isso, Fabizinha! Confesso que às vezes tenho dificuldade de entender algumas das tuas questões. Talvez não as questões em si, mas as formas que encontras pra lidar com elas. Às vezes me parece que somos quase iguais por dentro, mas que percorremos caminhos diferentes. Tenho a forte convicção de que vamos nos encontrar lá adiante, cheias de novidades pra contar uma pra outra. Tomara!

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Quem sou eu

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Imbituba, SC, Brazil
Gosto da escrita e quebrei o cadeado da porta por onde passam minhas emoções e vontades. Procuro o novo nas coisas que se repetem no dia-a-dia e escrevendo percebo e vivo intensamente as descobertas. E tudo que escrevo me alivia, me faz rir, me arrepia.

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