domingo, maio 24, 2009

Quando nos separamos

Quando nos separamos, leva um bom tempo para acontecer de verdade. Fisicamente é rápido. Emocionalmente é lento. Ainda mais quando se tem filhos em comum.

Minha filha de 6 anos ligou para desmarcar um passeio e disse que gostaria de dormir na casa do pai. Por mim, ok. Mais tarde levo algumas coisas para ti – disse a ela. Fui até lá, entreguei sua mochila a ela e ao pai. Fui atendida na porta por sua madrasta. Minha pequena veio me receber com uma cara satisfeita, em paz, feliz. E olhei aquela parte de sua família com olhos novos. Me senti aliviada. Em quatros anos de separação, confesso, foi a primeira vez que reconheci – e respeitei verdadeiramente – o fato de que ali, naquela casa, ela tem um lar com todas as qualidades que possam ser associadas a tal palavra. De que não é só a mãe – prepotente – que lhe oferece segurança, um colo, um calor que lhe suaviza a respiração e o coração.

Saí dali me sentindo inteira e aceitando o que é o amor incondicional por um filho. Não é necessário que eu mova mundos, lhe compre coisas, pare meu tempo e pense que só eu posso proporcionar o melhor. Ela tem o pai. Ela tem a madrasta. Ela tem uma família grande, muito grande. Família de pais separados.

Quando terminamos um casamento, leva um bom tempo para entender o risco de errar feio deixando um filho no meio da relação acabada (ou inacabada). Risco de usá-lo como meio para dar recados, disputar quem pode dar mais presentes, atenção, tempo. Risco de não reconhecer que ele pensa e percebe tudo a sua volta. Risco de achar que é uma extensão nossa e não reconhecê-lo como indivíduo. Pode levar mais tempo ainda para aprender a deixá-lo fora disto e incluí-lo de uma forma diferente na nossa nova vida, sem causar grandes danos ou traumas. Sim, digo grandes pois pequenos e médios existirão sempre e serão passíveis de terapia no futuro.

Hoje compreendi – não intelectualmente, mas emocionalmente – que separação quando consumada interiormente promove uma imensa paz. Paz em olhar minha filha e ver que sua alegria transpassa as fronteiras imaginárias que traçamos quando nos separamos. Paz em compreender que não há mais fronteiras. Elas não são necessárias.

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Gosto da escrita e quebrei o cadeado da porta por onde passam minhas emoções e vontades. Procuro o novo nas coisas que se repetem no dia-a-dia e escrevendo percebo e vivo intensamente as descobertas. E tudo que escrevo me alivia, me faz rir, me arrepia.

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